Nossas respostas ficam mais lentas, a memória sofre, o raciocínio se arrasta um pouco: por quê?
Diz a sabedoria popular que, para morrer, basta estar vivo. Parece
óbvio, mas é verdade também do ponto de vista bioquímico: morrer é a
consequência de estar vivo -e o processo entre as duas coisas é o
envelhecimento.
Envelhecer é sofrer as consequências da respiração celular, o processo
que transfere para as células a energia trazida pelos alimentos.
Essa definição, no entanto, soa bastante diferente da ideia mais
tradicional que a gente faz do envelhecimento: aquele encarquilhar da
pele, o embaçar dos olhos, o viço dos cabelos que se vai, a vontade cada
vez menor.
Ou não: há quem envelheça bem, estendendo as características da juventude bem mais adiante.
Entender o envelhecimento do cérebro é uma das grandes preocupações da
neurociência. Nossas respostas vão ficando mais lentas, a memória sofre,
o raciocínio se arrasta um pouquinho: por quê? Morrem neurônios?
Desaparecem sinapses? O metabolismo deixa de ser suficiente? O que causa
o declínio funcional do cérebro com a idade, e quando ele começa?
Uma resposta nada animadora foi oferecida por uma pesquisa de nosso
laboratório, que analisou o número de células no cérebro de ratos de
diferentes idades.
Nos animais de dois anos de idade -bem velhinhos, para ratos-,
encontramos cerca de 30% menos neurônios do que nos jovens adultos, de
dois ou três meses de idade, numa perda generalizada por todo o cérebro.
E o que é pior: a perda, progressiva, se nota já a partir dos três meses de idade.
Ou seja: mal o bicho chega ao seu ápice, no final da adolescência, e já é
ladeira abaixo -pelo menos em termos de números de neurônios.
Falta determinar se essa perda de neurônios de fato causa perda
cognitiva, mas é de se esperar que perder neurônios ao longo da vida não
seja boa coisa.
Mas vamos às boas notícias. A primeira é que embora a perda média seja
de 30% dos neurônios, a variação é grande entre indivíduos.
Ratos, portanto, também nisso são como pessoas: alguns envelhecem bem, outros nem tanto. De onde vem essa diferença?
Ainda não se sabe, mas alguns suspeitos são conhecidos. E aqui está a
segunda boa notícia. Sabendo que o declínio neuronal começa assim que se
atinge a idade adulta podemos, desde cedo, investir em educação
continuada, atividades físicas, exercícios mentais, bom sono, boa
alimentação -e, assim, fazer o possível para envelhecer bem.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ e autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blogwww.suzanaherculanohouzel.com
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